segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Vive



"Desligar o cérebro e gozar a vida exclusivamente pelos sentidos. Não pensar, não lembrar, não racionalizar, não analisar, só sentir, sonhar, rir, numa palavra, viver!"

(Margarida Rebelo Pinto)

Nunca um parágrafo fez tanto sentido! Viver... Somente viver!

Ajeihad

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Procuro




Procuro sem encontrar... 
Hoje olho através da janela do meu quarto e não consigo encarar o dia que me enfrenta olhos nos olhos como um touro enraivecido. As folhas balançam ao sabor do vento. Amarelos e vermelhos do outono misturam-se numa sintonia primorosa e eu simplesmente não me enquadro neste momento memorial. 
Hoje tudo em mim é dor...
Vejo com pesar o movimento dos pássaros que esvoaçam de galho em galho, da folhagem solta que percorre aquele caminho invisível, como o trajecto de uma montanha russa se tratasse. Os campos castanhos, lá em baixo, esperam o agricultor para os semear... Ideias soltas, mas tudo unido numa perfeição natural. 
O meu olhar assenta sobre essas pequenas folhas que vão insistindo em permanecer pelo ar, como se elas próprias exalassem a esperança de não cair e enfraquecer no chão húmido das chuvas. Elas caem, inevitavelmente caem, evocando  uma simples  metáfora através dos tempos. Os nossos dias são breves, tal como os das pequenas folhas que já não voam. Os céus cinzentos e o sofrimento das árvores despidas... É um viver em constante transformação.
Procuro sem ver o dia em que conseguirei reencontrar cores dentro de mim...

"Somethimes the pain is just too much
And it hurts like hell
That's the way it feels ..."

Ajeihad

domingo, 7 de novembro de 2010

Amanhã

  

Já chega. Estou cansada e retornar novamente a esse lugar não ajuda. Faz gastar energias necessárias para conseguir sobreviver ao agreste dia a dia. Já chega. Deixei de acreditar. Não é aconchego, é deixar-me ligar novamente a memórias que não passam de telas manchadas por um pintor dominado pela ira.  Ele pintou-me e naquele quadro a óleo encontro-me desmantelada. Tons escuros contrastam com pequenos focos avermelhados. Num vislumbre ali jaz uma parte de mim que já não volta nem acredita.  O resto encontra-se num estado total vegetativo. Acabou.  Até o pintor teve visão.
Já chega. Vou trilhar por essa vida fora como se houvesse uma esperança num amanhã diferente. Ontem foi um futuro de um passado. Amanhã será o futuro de hoje. Por isso, vou. Deixaste-me ir e eu vou. Não olharei mais para trás, nem ouvirei mentalmente e vezes sem conta aquelas últimas palavras. Têm sabor desagradável. Já chega. Elas tocam-me. Eu sinto-as na pele, como senti a insensibilidade do teu olhar revolto com o questionável (para mim). 
Hoje sou uma mera projecção do artista. Ele pintou-me cansada. Vou dormir e fazer do quadro um pesadelo passível de ser esquecido. Talvez o rasgue, ou guarde numa caixa no fundo do sótão (só para ganhar pó), ou, talvez... Talvez o queime.

Ajeihad

I know

"I know i'll never see you
I know i'll never run into your body walking through the crooked streets
I know i'll never hear you
I know i'll never hear you like a sound that wafts inside from outside there
I know that if i waited i know that if i wait a thousand days will lie wasted with thoughts of you
My love i've pictured this:
Your violet eyelids opened to say "here's where you've been"
Your lips open to say "my darling it's been so very long and i'm in pain"
I know i'll never feel you
I know i'll never get so close to you that i can't smell anything else
I know i'll never see you
I know that where you go i'll still be far from where you are
My love i've pictured this:
Your violet eyelids opened to say "here's where you've been"
Your lips open to say "my darling it's been so very long and i'm in pain" sometimes i picture all your fingers
Sometimes they're crawling down my spine
Sometimes they're buttoning your jacket
Sometimes you're far but you're still mine
I know that it is raining
And i know that the rain will soak you through
And leave you like the tattered sky
I know i go in circles
I know that window panes bring only rain and not your face
Sometimes i picture all your fingers
Sometimes they're crawling down my spine
Sometimes they're buttoning your jacket
Sometimes you're far but you're still mine
I know that it is raining and
I know that the rain will soak you through and leave you like the tattered sky
I know i go in circles
I know that window panes bring only rain and not your face"

(Trespassers William)

Ajeihad

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Chuva & Sol




Existem alturas que julgamos determinado o nosso trilho, que é isso mesmo, que desta vez acertamos.  Quantas vezes não temos a mesma sensação? Mas estamos tão longe da verdade, mais uma vez... Sentimos na pele que infelizmente a nossa certeza é, e sempre será, concebida até certa e determinada altura.
Esta é a nossa demanda.  A única certeza são os sonhos, que vêm para a preencher. Vêm de noite, de mansinho... Estão para nós, como um gelado está para uma criança gulosa em dia quente de Verão. Acordamos e o dia está chuvoso e escuro.  Não que eu desgoste de dias chuvosos, aliás eu gosto desses dias! Ficar do lado seco da janela e ver aquelas pequenas gotas que nos tentam agredir, mas sem sucesso. Há algo de místico e mágico. Mas dias chuvosos estão para nós como um pesadelo. Se nos atormentam por tempo demasiado, acabam por nos assustar e tornar  demasiado débeis e melancólicos... Porque para nós, dias escuros de chuva são como trevas que nos enevoam os olhos e alma...
Dias de sol são como uma lufada de ar fresco depois da tempestade. Permitem-nos fechar os olhos, abrir a janela e saltar através dela. As sensações de liberdade e alívio acompanham o novo dia solarengo e cheio de luz. Fechamos os olhos com a cara a apontar aos altos céus e apreciamos aquele momento como se fosse o último.
É um ciclo. Quantas e quantas vezes já nos sentimos perdidos e deslocados durante a nossa existência? Quantas e quantas vezes encontramos esse sol morno que nos aqueceu a cara?
Por mais que caminhemos tendemos para um inicio renovado de tristezas, desilusões, alegrias e sorrisos. É a nossa condição enquanto seres racionais que desenvolveram esta capacidade  de sentir.
Por agora quero findar e fechar! Despedir-me deste ciclo! Quero a outra metade. Quero sorrir! Quero o sol, o céu azul, as nuvens brancas! O vento suave que passa e me acaricia e arrepia. Aquele que me dá alento pelo novo dia que começa!

Ajeihad

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Só o amor é real

"O nosso desgosto parecia esmagador, muito para além do que é física e mentalmente suportável. Até respirar fundo, o ar passava dificilmente, como se existisse um espartilho apertado à volta dos nossos peitos, um espartilho de dor, mas sem atilhos para desapertar. Com o tempo a intensidade lancinante da nossa tristeza foi-se foi-se esbatendo, mas o vazio nos nossos corações permaneceu." 
(Brian Weiss)

Não há palavras para descrever a clareza...

Ajeihad

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Why



...
Tell me why, oh why
Can't we let the good things in
I wanna know why, oh why
Can't we let the good things in
...

Ajeihad

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Marioneta


"O que é que foi? O que é que tens? O que que se passa? O que é que te dói?"
Foi o dito por não dito, o feito por não feito. Tenho um pesar neste corpo que já não responde como antes. Sou como uma marioneta em dia de teatro. Alguém mexe o meu corpo por mim e eu concentro-me no público sem pestanejar, sem que os traços do meu rosto expressem qualquer tipo de emoção. Mas a marioneta ri, chora, vive freneticamente o seu espectáculo! Só que é o manobrador quem por ela vive...
Dói este pesar e mais uma vez, dói esta ausência que teima em ficar. Alojou-se em mim, encrostou-se e ficou agarrada quem nem lapa. Não sei e eu não tenho coragem de arrancar. Sangraria e jorraria sangue vermelho vivo. Não, não quero voltar à ferida aberta. Por agora está controlada, mas funciona como um foco de infecção que por vezes não consegue subsistir às drogas.
Em ti há qualquer coisa que me prende e sem explicação lógica possível de concretizar, de materializar. Os meus sentidos dominam esta vontade que não se rende ao racional do meu ser. És um ópio, um vício! E todos os vícios têm um fim! Só é necessária a força de vontade...
Mas sabes? Por agora não importa mais a verdade desta vontade. Por agora vive este fado de insensatez, de incoerência, mas um dia voltarei e deixarei ser marioneta de teatro. Ficarei melhor ainda.

Não te recordo, não te lembro, não formulo a tua imagem no meu pensamento... Sinto-te tão perto que quase te toco... E o teu perfume? Esse não me larga...


Ajeihad

sábado, 21 de agosto de 2010

The people


 
 
Ajeihad

Delete



Alguma vez te sentiste assim? Como se o teu coração tivesse sido apunhalado 15 vezes, sem dó nem piedade, apesar de ele estar perfeitamente são? 
Ele continua a bater e a cada batida esgota mais um pouco da sua energia, ficando cada vez mais fraco, até ao momento em que cessa e não bate mais... E as feridas doem que se farta! Ele ganha vontade própria e desiste. Mas ele não é egoísta e em teu partido, não deixa que sintas o seu terminar. Estás tão embrulhado na tua agonia que entras num transe profundo. És tu, e aquele canto que te acolhe. Não há mais mundo. É só o silêncio que te abraça enquanto te enrolas e ficas em posição fetal e o mar que te escorre pela face revelando sintomaticamente a tua agonia.
Alguma vez te sentiste assim? Morto? Sim, morto. Como se a tua alma fosse ferida por algo que te transcende e jorrasse sangue vermelho vivo? Ele só não escorre porque é a tua alma que carrega esse fardo e a alma é nada mais que a nossa projecção. É um ser independente da matéria orgânica que nos compõe e que sobrevive à morte do corpo. Ela é o que resta depois de estarmos bem frios...
O acordar teimoso que me assombra e acompanha durante os dias resume-se ao pesar do mundo que se abateu sobre mim. E a dor, esta dor tão grande, só dá vontade de desistir, morrer e virar alma. Sem corpo que pese, sem mágoa que magoe e sem coração que doa lancinantemente. Isto não é loucura, é, simplesmente, desespero por não ter mais condições para sofrer.
Alguma vez te sentiste assim? Não creio, não vejo que esta condição te tenha lancetado a alma nem tornado os teus dias mais compridos que o normal.
O relógio continua a contar os segundos, os minutos, as horas, mas aprendeu a dar tempo extra à minha moradia espiritual. Os dias têm 30 horas e eu já não sei bem como lhe fugir, não sei como o encurtar. Chega a ser desesperante. É como se estivesse num deserto sem água nem comida por demasiado tempo.
Já alguma vez sofreste por amor? Para mim é isto tudo e muito mais que agora não ouso escrever. Esgotaram-se as palavras depois destas lágrimas que resolveram cobrir o meu rosto em protesto. Para ti não creio que alguma vez te tenhas sentido embrulhado em tamanha agonia e tristeza. Como eu te invejo. Mas, por outro lado, parece-me justo o suficiente acreditar que não terás experimentado a verdadeira alegria do puro sentimento.

Como sempre, recordo-te, mas desta vez odeio-me e não me suporto pela condição que carrego. Haverá um botão "Del" que ainda não tenha encontrado? Fossem os nossos passos, o nosso deambular  por esta terra confinados a um simples botão delete. Que bom que era.

Ajeihad

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Há Dias Assim



Conheces aqueles dias de festa em que os bombos troam fortemente e vês aglomerados de pessoas por todo o lado que não deixam respirar do tanto calor que emanam e tu ficas ali sozinho a ver o tempo passar em câmara lenta Os risos estrondosos, os bombos a ressoar, os gigantes cabeçudos a dançar e a esbracejar, de um lado para o outro, com as suas caras impávidas, os amigos que se abraçam a cambalear, os cheiros  nauseantes e tu ali no meio como se estivesses num carrossel parisiense, em que tudo anda em círculos Estás parado e tudo corre à tua volta, estás parado e o mundo não te vê Tu estás mas não estás Tu vês mas não és visto Queres sair dali, olhas à tua volta, e as pessoas estão a rir tão violentamente que te põem os ouvidos em sangue mas sem sangrar, que te fazem vociferar sem seres escutado Estás parado e tudo corre Foges dali furando pelo meio da multidão e aquelas pessoas felizes barricaram o teu caminho e não tens mais para onde ir Só vês gente e gente Eles só riem e riem e fazem-te gritar A tua boca não mexe mas tu gritas, lá no fundo tu gritas E tapas os ouvidos e tentas que os bombos, os risos, as palavras, das gentes que passam, não te firam os tímpanos que sangram sem que haja sangue vermelhão Abres e fechas os olhos e tentas encontrar um ponto de focagem que te dará força para saltar daquele transe, daquela sensação ilusória de movimento do corpo parado ou mesmo do movimento à sua volta provocado pelo ribombar dos bombos e da passagem das criaturas ruidosas, daquela vertigem constante e repugnante Conheces aqueles dias de festa que por alguma razão não têm o tão esperado fim, e tu sentes-te como se fosses mais um na multidão, sem realmente o seres És menos do que essa multidão, és menos do que aquele ser que te enfrenta, és menos que nada... Há dias assim...

Ajeihad

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O que será que ela é?



"...Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz..."

Foi um tempo (que teima em não partir), uma era de remoinhos de saudade e alguma especulação... Não havia perigo no que ensaiamos nem maldade no que partilhamos. Não havia... Não haviam sensibilidades conjugadas... E uma não une por duas!
O tempo que terminou e a era que quase finda, dá início a uma nova tolerância, provocando, a longo prazo, um despertar da consciência. A nova consciência, um novo ser, um novo ego que ousa  realçar-se e escapulir das muralhas que criou.
Esse espasmo de tempo efémero e as teatralidades idas irão ser arrastadas por chuvas que o Inverno  prometeu.
Agora são nada mais que isso... Desprovidas de significado? Não. Peças mal ensaiadas e desperdiçadas.
A cortina fechou, a representação terminou...

Talvez um novo começo.
Hoje guardo a força que ontem não tinha e a tua imagem mora num canto inundado da minha cabeça ou coração... Já não sei bem a qual deles pertence. Lançaste a água, só me resta afogar essa imagem que me fustiga...

Ajeihad

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Alma de pássaro


"Eu vou ter que me habituar a viver sem ele, mesmo que isso represente que só consiga separar os dias das noites pela luz do sol, que quase morra, continuando viva, que os meus olhos, todos os dias se levantem para o ver cruzar os céus."

(Citação de Margarida Rebelo Pinto)

Ajeihad

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Deixa-me ...


Deixa-me virar de página. Deixa-me observar o céu que me cobre, como um manto escuro, e ver as estrelas que lá brilham. Eu não as vejo! No meio de milhões éramos duas... Agora sou uma num milhão. Procuro, mas não te encontro.
Antes desse buraco escuro que ocupa o lugar que preenchias eras uma Supernova? Irradiavas luz e eu seguia-te! Não estava certa, mas agora compreendo porque olho e não te vejo. O teu brilho extinguiu-se...
A felicidade do teu caminho já não me ilumina e este mar, que me banha todas as noites, é por ser uma num milhão... Sento-me, olho para o alto céu, e eis que um rasgo de fogo se atravessa na minha visão... A estrela cadente, a estrela da esperança... Fecho os olhos, formulo no meu interior o desejo, e em surdina peço-o aos céus, na esperança que me ouçam...

Sinto aquele beijo que nos uniu naquela manhã pura e fresca... Já passaram alguns anos...

Ajeihad

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Máquina de escrever à mão


Hoje acordei com uma enorme vontade que este bolo sentimental azedo fosse como uma carta em papel, digitada em tinta de máquina de escrever.

Sem muitas complicações, pegava nesse escrevinhado, amarrotava vezes e vezes sem conta, e no fim rasgava em pequenos pedacinhos e deitava no caixote de lixo mais próximo!

Se fosse insuficiente e ainda houvesse uma réstia, imprimia, numa impressora de tinta, esse rascunho mal amanhado, e repetia o processo até despertar a minha cura.

Hoje acordei com uma enorme vontade de te arrancar do meu peito, amarrotar-te e rasgar-te em pequenos pedaços até que não restasse mais nada de ti aqui... Em mim!

Era simples, dócil e natural...

Facilmente eu conseguiria encarar o amanhã olhos nos olhos, sem sonhar com o ontem que poderia ter sido diferente.

Vejo-te sem te poder tocar, como se tivesse sido colocada do outro lado da janela suja e baça.... 

Ajeihad

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Maestro


É tudo senão este vento que me acaricia a pele em tom de sinfonia quebrada...
São notas soltas que não compõem uma melodia.
Apenas notas soltas à espera de união para criar a música que eu posso ouvir
sem tapar os ouvidos e lançar uivos de inquietação e desgosto.
São notas quebradas, como a melodia, com muitas pausas a intercalar o incessante barulho. 
Não percebo a sua origem.
É como se viajassem anos luz até mim,
Tornando inacessível o acesso a esse instrumento que baralha a razão
e a destrói...
São notas sem construção,
são notas perdidas nas teias do tempo.
Não foi maestro quem as compôs,
o tempo não é maestro...
É simplesmente autodidacta no seu caminhar...
As notas que profere não têm lugar na pauta rasgada...
É tudo senão um inicio desconhecido,
Com um vento que acaricia a face de quem não o sente
É o livre arbítrio desse ar que respiro sem o ver
É tudo senão uma teia vulgar e sem cor, com notas presas,
Na atitude inigualável do maestro desastrado.

Ajeihad

terça-feira, 27 de julho de 2010

As Crónicas da Margarida


"O tempo está para o amor como o vento para os incêndios; apaga os fracos e ateia os mais fortes. É uma espécie de teste, uma prova cega, uma forma inequívoca de clarificar a essência daquilo a que tantas vezes queremos chamar amor e que ainda não é mais do que o minúsculo embrião de futuro incerto e tantas vezes improvável.

O tempo está para o amor como o vento para os incêndios. Alastra repentinamente, traiçoeiro e sem aviso, vai para lugares onde nunca pensamos que pudesse sequer chegar, faz-nos tremer, sofrer, rezar, dá-nos vontade de lutar para o combater, porque não sabemos para onde vamos, o que queremos nem se seremos os mesmo depois do fim... e por isso receamos o fim antes mesmo do princípio, imaginamos cenários apocalípticos para proteger o coração cansado e errante que não quer ainda, apesar de tudo, parar para pensar ou escolher um lugar.

O tempo está para o amor como está para tudo o resto na vida. É o tempo que nos dá maturidade, que nos ensina a distinguir o que é urgente daquilo que é mesmo importante, que nos mostra onde estão os verdadeiros amigos, que nos dita quais os princípios pelos quais nos regemos e como deveremos lidar com as nossas fraquezas. O tempo ensina-nos a viver com os nossos defeitos e a respeitar as diferenças dos outros. Dá-nos sabedoria, tolerância, paciência, distância, objectividade, clareza mental. Afasta as dúvidas e as hesitações. Poupa-nos de decepções e enganos. Abre-nos os olhos quando somos os únicos a não ver. E dá-nos força para continuar, mesmo que o amor seja uma ausência, uma perda, uma falta, uma desilusão.

Mas o amor está para o tempo como uma vela acesa numa noite de luar. O amor é trémulo, impaciente, frágil, volúvel, fraco, fácil de acender.

Tantas vezes se consome a si próprio, tantas vezes é tão fácil de apagar, para depois se reacender, voltar a vacilar, incerto e inseguro, quente mas efémero, forte mas falível, romântico mas tantas vezes superficial...

O amor abre o coração, desprotege o espírito, acorda o corpo e aquece a alma. Pode nascer de um olhar mais longo, de uma conversa à mesa, de um passeio à beira-mar, da simples passagem da palma de uma mão por uma cintura desprevenida. Não tem regras, nem tempo, nem cores, porque não tem limites, nem compassos nem contornos. Por isso é que quando nos apaixonamos enchemos páginas inúteis com os defeitos e qualidades do nosso amado sem chegarmos a nenhuma conclusão. E ao vermos nele alguns defeitos que tanto abominamos, condescendemos, abreviamos, contemporizamos e deixamos passar. Porque o verdadeiro amor é aquele que resiste ao tempo, sobrevive às dúvidas, emerge do medo e aprende a
dominá-lo.

Amar é outra coisa. É dar sem pensar, é sonhar o dia todo acordado e dormir sem nunca adormecer, é galgar distâncias com agilidade e destreza, é viajar sem sair de casa, escolher livros e programar surpresas, namorar o telefone à espera que ele toque, acordar depois de duas horas de sono com cara de bebé, sentir que somos invencíveis e que a perfeição está tão perto e é tão fácil, que a morte já podia chegar, sem termos medo de perder a vida.

O verdadeiro amor é absoluto, indestrutível, estóico, inflexível na sua essência e tolerante na sua vivência, discreto, sóbrio, contido, reservado, escondido, recatado, amadurecido, desejado, incondicional, amargurado, sagrado, sobressaltado. O verdadeiro amor é delicado, bom ouvinte, cúmplice, fiel sem ser servil, atento sem se impor, carinhoso sem cobrar, atencioso sem sufocar e muito, muito cuidadoso para nunca se perder, se estragar, se esquecer ou desvirtuar. O segredo está no tempero, na moderação, nas palavras que nunca se chegam a dizer, nas conversas perdidas à beira do rio, no olhar que fica no ar, no tempo que é preciso dar para que cresça, amadureça e deixe de meter medo. É preciso dar tempo ao amor, um tempo sem tempo, sem datas nem prazos, sem exigências nem queixas, porque o amor leva o tempo que for preciso."

(Margarida Rebelo Pinto)

Ajeihad

sábado, 24 de julho de 2010

Pódio


Finalmente descobres um tempo desprovido de sentimento.
Hoje vi-o e conquistei o lugar do pódio mais abaixo.
Virei-me para onde mora a oração,
e rezei-te uma pequena humilhação.
Como nunca mais irei fazer...
Tempos e tempos que procurei na minha caixa de mensagens
"O que é o amor?"
"O que é o teu amor?"...
Fascinava tudo o que somente eu conseguia  ver através deste saudoso sentimento,
Que agora tem sabor acre....
Não vejo para além de dor!
É a minha razão quem dita,
Somente hoje!
Porque me julgaste com palavras duras de dor!
Finalmente vi...
O que é o amor...
O teu amor!
Dor...
As minhas lágrimas,
O meu pesar ao mais insignificante átomo!
Não consigo crer no óbvio.
A realidade é demasiada!
Só queria que estivesses a meu lado...
Ouvisses...
Compreendesses o que é o meu ser...
Uma última chance...
Um último ardor!
Diz o meu nome uma última vez!
Uma última conquista do que não conquistamos!
Está bem meu amor...
Não posso dormir mais nessa cama que fiz...
Foi desfeita...
Não é o que eu preciso...
Tu vais-te!
E eu continuo a cair!
Diz o meu nome mais uma vez!
Estou a cair!
Mas vou esquecer-te meu amor...
Não guardaste o primeiro lugar no pódio...
Aquele que sempre desejei ter,
Que lutei com tanto fulgor!

Recordo-te, mas não te confio meu amor!

"Aprende que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido: simplesmente o mundo não irá parar para que tu o possas concertar.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Portanto, planta, tu mesmo, o teu jardim e decora a tua alma - ao invés de esperar eternamente alguém que lhe traga flores.
E aprende que, realmente, tudo podes suportar ; que realmente és forte e podes ir mais longe - mesmo após teres pensado não ser capaz. E que realmente a vida tem o seu valor, e, tu, o teu próprio e inquestionável valor perante ela."
(William Shakespeare)


Ajeihad

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O poeta

O poeta diz que

"A ausência de cores é completa em todos os instantes de separação..."

Não poderia estar mais de acordo...

Ajeihad

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Janela


Assisto ao cair da noite pela janela
O céu escurece, mas ainda vejo as nuvens em tons de cor de rosa...
Existe cor no céu sombrio...
Os sons abafados lá fora,
O vento que assobia baixinho e me faz fechar os olhos,
mais uma vez...
A janela ao meu lado esquerdo.
Por agora é ela que me ampara
O lado que dói...
O lado que pesa...
O meu lado esquerdo...
Ainda bem que tenho um lado direito.
Aquele que protege...
Aquele que ajuda a tolerar...
Talvez a dita força interior venha do lado direito!
Quem sabe?
Eu não sei, mas vou crer no meu lado direito...

Recordo o teu toque...

Ajeihad

É vento e chuva

Pensamentos soltos.
Presos à tua memória, com sabor amargo...
O vento faz fechar os olhos... Quando fechas, esses pensamentos fluem,
caem no teu rosto da minha memória... Como gotas de chuva...
Gotas de chuva a cair num mar brandido...
Parecem tentar furar e entrar à força numa rocha consistente.
Pensamentos soltos, são ventos furiosos.
Fechas os olhos e alimentas a intensidade da sensação,
Manténs vivas as gotas de chuva no mar revolto,
e deixas que elas caiam, ao sabor amargo de uma recordação.
A chuva cai agora sobre ti, desenhando as linhas do teu rosto,
dos teus lábios, do teu corpo...
Num prazer sôfrego elas caem, uma a uma, como se fosse a primeira vez.
Cada gota num encontro memorial,
Ao teu encontro!
O vento fecha os olhos,
esgota a tempestade da saudade e tu olhas...
Olhas para trás e vês a dança daquele mar que ainda
se agita por ti.
Num mar tempestuoso...

Ajeihad

Aconteceu

Estranhamente aconteceu...
Não sei o que pensar
O que passou e já não retorna?
Porque partiste?
Estranhamente aconteceu...
O teu coração selvagem não bateu mais por mim...
Sentado no teu leito
Olhas à tua volta
Sentes que é que isto que queres
A tua mente numa calmaria,
A minha numa revolta!
Foges e não páras
Passas e não me vês!
Os teus olhos fixam o limite do horizonte
Porque não me amas?
Porque te vais?
Voo um espaço vazio
Que não é teu
Piso pedras que tu não pisas
Nada é meu...
Tenho o que precisas!
Quebra o silêncio prometido
Neste momento de derrota
Quebra a irrealidade
O silêncio é a ruína!
O coração que é teu
O teu que nunca bateu por mim...
Estranhamente aconteceu... 

Ajeihad

terça-feira, 20 de julho de 2010

A Viagem...

Foi uma viagem de um só sentido... De ida e sem possibilidade de retorno. 
Ela circulava numa estrada imensa que não parecia ter fim, mas chegou ao seu destino...
Era um dia quente de Verão e o sol brilhava com intensidade, assim como a sua expectativa. Mas em vão...
Veio o Inverno... O frio da estação cobriu-a em toda a sua plenitude e aí o verde das árvores, que orlavam as bermas daquela estrada interminável, já não era verde... O azul do céu deu lugar ao breu e as nuvens vestiram-se de um tom cinza carregado... O canto dos pequenos pássaros deixaram de se ouvir e o canto interminável daquela cotovia teimava em não desistir...  A esfera vestiu-se de luto e ela vestiu-se com ela.
Era uma estação que ela não suportava... Um inicio solitário...

Ajeihad

Ouvi dizer...

"Ouvi dizer que o nosso amor acabou.
Pois eu não tive a noção do seu fim!
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim:
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi!
E eu fiquei com tanto para dar!
E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva!
E pudesse eu pagar de outra forma!

Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã,
E eu tinha tantos planos pra depois!
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós;
Sem tirar das palavras seu cruel sentido!
Sobre a razão estar cega:
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu;
Como eu não fui;
Um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!
Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!"

(Ornatos Violeta)

Ajeihad

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Redondo...

Amargura...
Frustração...
Negação...

Os despojos do mundo incrustados numa só alma. Num só espírito que ontem via o que julgava a certeza de uma eternidade.

Hoje vive essa ferida só dela, aberta ao desacato da perdição. A condenação eterna ri-se e ela esconde-lhe a cara para não mostrar o mar que a percorre. Não tardasse a noite a chegar, o seu único aconchego, a sua criança, a sua única amiga, ela viveria a sua dor longe do olhar amargurado da vida... À luz, que a queima, é só uma mera alma perdida no meio de milhares de outras que a faz banhar nesse mar salgado sempre que se pergunta...

"O que correu mal?
Porque te foste?
Onde estás?
Porque não voltas?
Porque não me amaste como antes?"

Ela só queria ser amada como sempre. Ela não sabe! Ela não compreende! Ela não pediu a ferida nem a negação! Ela questiona-se mais uma vez todas aquelas perguntas já construídas quase em redondilha, numa sequência já interiorizada...

"O que correu mal?
Porque te foste?
Onde estás?
Porque não voltas?
Porque não me amaste como antes?"

Em desacato com o mundo, ela grita mas não a ouves! As almas já não se tocam? Como se ela está ligada a ti como uma raiz se incrusta na terra? Fechaste a porta e deixaste-a do lado de fora... Sozinha... No meio de tantas outras almas que procuram as suas respostas à luz da noite incerta... Ela é  só uma criança que ainda vê o mundo com olhos de inocência bela. Como a noite que a acolhe agora... 

Ela não entende e ela pergunta-se porque só queria ser amada.

Confunde-se então com a escuridão sua amiga. Ela é um buraco negro, em toda a sua existência, em que o tempo parou sem qualquer piedade... 
Viveu! É uma criança abandonada que já não vive! O negro sugou toda aquela vida que a vestia e então ela banha-se no seu escuro mar tentando encontrar-te...

Ela só queria ser amada por ti.

Ajeihad

quinta-feira, 4 de março de 2010

A melhor das sínteses....


"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

(Luís Vaz de Camões)


Hoje não podia deixar de citar este, tão bem, conhecido poema...
Dói... Mais uma vez dói... Mais uma vez não há nada para além deste vazio...
Porquê?

Ajeihad

segunda-feira, 1 de março de 2010

Voltando...

 

Voltando...
Voltando de anos em silêncio....
Voltando ao que nunca mais serei...
Voltando a sonhar aquilo que outrora me moveu...
Voltando da revolta que cobre toda a minha alma...
Voltando a ser...
Voltando na esperança de encontrar aquela paz à tanto tempo atrás conquistada...
Voltando para que este dia seja o dia...
Voltando...
Voltando...
Ajeihad