sábado, 21 de agosto de 2010

The people


 
 
Ajeihad

Delete



Alguma vez te sentiste assim? Como se o teu coração tivesse sido apunhalado 15 vezes, sem dó nem piedade, apesar de ele estar perfeitamente são? 
Ele continua a bater e a cada batida esgota mais um pouco da sua energia, ficando cada vez mais fraco, até ao momento em que cessa e não bate mais... E as feridas doem que se farta! Ele ganha vontade própria e desiste. Mas ele não é egoísta e em teu partido, não deixa que sintas o seu terminar. Estás tão embrulhado na tua agonia que entras num transe profundo. És tu, e aquele canto que te acolhe. Não há mais mundo. É só o silêncio que te abraça enquanto te enrolas e ficas em posição fetal e o mar que te escorre pela face revelando sintomaticamente a tua agonia.
Alguma vez te sentiste assim? Morto? Sim, morto. Como se a tua alma fosse ferida por algo que te transcende e jorrasse sangue vermelho vivo? Ele só não escorre porque é a tua alma que carrega esse fardo e a alma é nada mais que a nossa projecção. É um ser independente da matéria orgânica que nos compõe e que sobrevive à morte do corpo. Ela é o que resta depois de estarmos bem frios...
O acordar teimoso que me assombra e acompanha durante os dias resume-se ao pesar do mundo que se abateu sobre mim. E a dor, esta dor tão grande, só dá vontade de desistir, morrer e virar alma. Sem corpo que pese, sem mágoa que magoe e sem coração que doa lancinantemente. Isto não é loucura, é, simplesmente, desespero por não ter mais condições para sofrer.
Alguma vez te sentiste assim? Não creio, não vejo que esta condição te tenha lancetado a alma nem tornado os teus dias mais compridos que o normal.
O relógio continua a contar os segundos, os minutos, as horas, mas aprendeu a dar tempo extra à minha moradia espiritual. Os dias têm 30 horas e eu já não sei bem como lhe fugir, não sei como o encurtar. Chega a ser desesperante. É como se estivesse num deserto sem água nem comida por demasiado tempo.
Já alguma vez sofreste por amor? Para mim é isto tudo e muito mais que agora não ouso escrever. Esgotaram-se as palavras depois destas lágrimas que resolveram cobrir o meu rosto em protesto. Para ti não creio que alguma vez te tenhas sentido embrulhado em tamanha agonia e tristeza. Como eu te invejo. Mas, por outro lado, parece-me justo o suficiente acreditar que não terás experimentado a verdadeira alegria do puro sentimento.

Como sempre, recordo-te, mas desta vez odeio-me e não me suporto pela condição que carrego. Haverá um botão "Del" que ainda não tenha encontrado? Fossem os nossos passos, o nosso deambular  por esta terra confinados a um simples botão delete. Que bom que era.

Ajeihad

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Há Dias Assim



Conheces aqueles dias de festa em que os bombos troam fortemente e vês aglomerados de pessoas por todo o lado que não deixam respirar do tanto calor que emanam e tu ficas ali sozinho a ver o tempo passar em câmara lenta Os risos estrondosos, os bombos a ressoar, os gigantes cabeçudos a dançar e a esbracejar, de um lado para o outro, com as suas caras impávidas, os amigos que se abraçam a cambalear, os cheiros  nauseantes e tu ali no meio como se estivesses num carrossel parisiense, em que tudo anda em círculos Estás parado e tudo corre à tua volta, estás parado e o mundo não te vê Tu estás mas não estás Tu vês mas não és visto Queres sair dali, olhas à tua volta, e as pessoas estão a rir tão violentamente que te põem os ouvidos em sangue mas sem sangrar, que te fazem vociferar sem seres escutado Estás parado e tudo corre Foges dali furando pelo meio da multidão e aquelas pessoas felizes barricaram o teu caminho e não tens mais para onde ir Só vês gente e gente Eles só riem e riem e fazem-te gritar A tua boca não mexe mas tu gritas, lá no fundo tu gritas E tapas os ouvidos e tentas que os bombos, os risos, as palavras, das gentes que passam, não te firam os tímpanos que sangram sem que haja sangue vermelhão Abres e fechas os olhos e tentas encontrar um ponto de focagem que te dará força para saltar daquele transe, daquela sensação ilusória de movimento do corpo parado ou mesmo do movimento à sua volta provocado pelo ribombar dos bombos e da passagem das criaturas ruidosas, daquela vertigem constante e repugnante Conheces aqueles dias de festa que por alguma razão não têm o tão esperado fim, e tu sentes-te como se fosses mais um na multidão, sem realmente o seres És menos do que essa multidão, és menos do que aquele ser que te enfrenta, és menos que nada... Há dias assim...

Ajeihad

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O que será que ela é?



"...Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz..."

Foi um tempo (que teima em não partir), uma era de remoinhos de saudade e alguma especulação... Não havia perigo no que ensaiamos nem maldade no que partilhamos. Não havia... Não haviam sensibilidades conjugadas... E uma não une por duas!
O tempo que terminou e a era que quase finda, dá início a uma nova tolerância, provocando, a longo prazo, um despertar da consciência. A nova consciência, um novo ser, um novo ego que ousa  realçar-se e escapulir das muralhas que criou.
Esse espasmo de tempo efémero e as teatralidades idas irão ser arrastadas por chuvas que o Inverno  prometeu.
Agora são nada mais que isso... Desprovidas de significado? Não. Peças mal ensaiadas e desperdiçadas.
A cortina fechou, a representação terminou...

Talvez um novo começo.
Hoje guardo a força que ontem não tinha e a tua imagem mora num canto inundado da minha cabeça ou coração... Já não sei bem a qual deles pertence. Lançaste a água, só me resta afogar essa imagem que me fustiga...

Ajeihad

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Alma de pássaro


"Eu vou ter que me habituar a viver sem ele, mesmo que isso represente que só consiga separar os dias das noites pela luz do sol, que quase morra, continuando viva, que os meus olhos, todos os dias se levantem para o ver cruzar os céus."

(Citação de Margarida Rebelo Pinto)

Ajeihad

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Deixa-me ...


Deixa-me virar de página. Deixa-me observar o céu que me cobre, como um manto escuro, e ver as estrelas que lá brilham. Eu não as vejo! No meio de milhões éramos duas... Agora sou uma num milhão. Procuro, mas não te encontro.
Antes desse buraco escuro que ocupa o lugar que preenchias eras uma Supernova? Irradiavas luz e eu seguia-te! Não estava certa, mas agora compreendo porque olho e não te vejo. O teu brilho extinguiu-se...
A felicidade do teu caminho já não me ilumina e este mar, que me banha todas as noites, é por ser uma num milhão... Sento-me, olho para o alto céu, e eis que um rasgo de fogo se atravessa na minha visão... A estrela cadente, a estrela da esperança... Fecho os olhos, formulo no meu interior o desejo, e em surdina peço-o aos céus, na esperança que me ouçam...

Sinto aquele beijo que nos uniu naquela manhã pura e fresca... Já passaram alguns anos...

Ajeihad

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Máquina de escrever à mão


Hoje acordei com uma enorme vontade que este bolo sentimental azedo fosse como uma carta em papel, digitada em tinta de máquina de escrever.

Sem muitas complicações, pegava nesse escrevinhado, amarrotava vezes e vezes sem conta, e no fim rasgava em pequenos pedacinhos e deitava no caixote de lixo mais próximo!

Se fosse insuficiente e ainda houvesse uma réstia, imprimia, numa impressora de tinta, esse rascunho mal amanhado, e repetia o processo até despertar a minha cura.

Hoje acordei com uma enorme vontade de te arrancar do meu peito, amarrotar-te e rasgar-te em pequenos pedaços até que não restasse mais nada de ti aqui... Em mim!

Era simples, dócil e natural...

Facilmente eu conseguiria encarar o amanhã olhos nos olhos, sem sonhar com o ontem que poderia ter sido diferente.

Vejo-te sem te poder tocar, como se tivesse sido colocada do outro lado da janela suja e baça.... 

Ajeihad

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Maestro


É tudo senão este vento que me acaricia a pele em tom de sinfonia quebrada...
São notas soltas que não compõem uma melodia.
Apenas notas soltas à espera de união para criar a música que eu posso ouvir
sem tapar os ouvidos e lançar uivos de inquietação e desgosto.
São notas quebradas, como a melodia, com muitas pausas a intercalar o incessante barulho. 
Não percebo a sua origem.
É como se viajassem anos luz até mim,
Tornando inacessível o acesso a esse instrumento que baralha a razão
e a destrói...
São notas sem construção,
são notas perdidas nas teias do tempo.
Não foi maestro quem as compôs,
o tempo não é maestro...
É simplesmente autodidacta no seu caminhar...
As notas que profere não têm lugar na pauta rasgada...
É tudo senão um inicio desconhecido,
Com um vento que acaricia a face de quem não o sente
É o livre arbítrio desse ar que respiro sem o ver
É tudo senão uma teia vulgar e sem cor, com notas presas,
Na atitude inigualável do maestro desastrado.

Ajeihad