terça-feira, 27 de julho de 2010

As Crónicas da Margarida


"O tempo está para o amor como o vento para os incêndios; apaga os fracos e ateia os mais fortes. É uma espécie de teste, uma prova cega, uma forma inequívoca de clarificar a essência daquilo a que tantas vezes queremos chamar amor e que ainda não é mais do que o minúsculo embrião de futuro incerto e tantas vezes improvável.

O tempo está para o amor como o vento para os incêndios. Alastra repentinamente, traiçoeiro e sem aviso, vai para lugares onde nunca pensamos que pudesse sequer chegar, faz-nos tremer, sofrer, rezar, dá-nos vontade de lutar para o combater, porque não sabemos para onde vamos, o que queremos nem se seremos os mesmo depois do fim... e por isso receamos o fim antes mesmo do princípio, imaginamos cenários apocalípticos para proteger o coração cansado e errante que não quer ainda, apesar de tudo, parar para pensar ou escolher um lugar.

O tempo está para o amor como está para tudo o resto na vida. É o tempo que nos dá maturidade, que nos ensina a distinguir o que é urgente daquilo que é mesmo importante, que nos mostra onde estão os verdadeiros amigos, que nos dita quais os princípios pelos quais nos regemos e como deveremos lidar com as nossas fraquezas. O tempo ensina-nos a viver com os nossos defeitos e a respeitar as diferenças dos outros. Dá-nos sabedoria, tolerância, paciência, distância, objectividade, clareza mental. Afasta as dúvidas e as hesitações. Poupa-nos de decepções e enganos. Abre-nos os olhos quando somos os únicos a não ver. E dá-nos força para continuar, mesmo que o amor seja uma ausência, uma perda, uma falta, uma desilusão.

Mas o amor está para o tempo como uma vela acesa numa noite de luar. O amor é trémulo, impaciente, frágil, volúvel, fraco, fácil de acender.

Tantas vezes se consome a si próprio, tantas vezes é tão fácil de apagar, para depois se reacender, voltar a vacilar, incerto e inseguro, quente mas efémero, forte mas falível, romântico mas tantas vezes superficial...

O amor abre o coração, desprotege o espírito, acorda o corpo e aquece a alma. Pode nascer de um olhar mais longo, de uma conversa à mesa, de um passeio à beira-mar, da simples passagem da palma de uma mão por uma cintura desprevenida. Não tem regras, nem tempo, nem cores, porque não tem limites, nem compassos nem contornos. Por isso é que quando nos apaixonamos enchemos páginas inúteis com os defeitos e qualidades do nosso amado sem chegarmos a nenhuma conclusão. E ao vermos nele alguns defeitos que tanto abominamos, condescendemos, abreviamos, contemporizamos e deixamos passar. Porque o verdadeiro amor é aquele que resiste ao tempo, sobrevive às dúvidas, emerge do medo e aprende a
dominá-lo.

Amar é outra coisa. É dar sem pensar, é sonhar o dia todo acordado e dormir sem nunca adormecer, é galgar distâncias com agilidade e destreza, é viajar sem sair de casa, escolher livros e programar surpresas, namorar o telefone à espera que ele toque, acordar depois de duas horas de sono com cara de bebé, sentir que somos invencíveis e que a perfeição está tão perto e é tão fácil, que a morte já podia chegar, sem termos medo de perder a vida.

O verdadeiro amor é absoluto, indestrutível, estóico, inflexível na sua essência e tolerante na sua vivência, discreto, sóbrio, contido, reservado, escondido, recatado, amadurecido, desejado, incondicional, amargurado, sagrado, sobressaltado. O verdadeiro amor é delicado, bom ouvinte, cúmplice, fiel sem ser servil, atento sem se impor, carinhoso sem cobrar, atencioso sem sufocar e muito, muito cuidadoso para nunca se perder, se estragar, se esquecer ou desvirtuar. O segredo está no tempero, na moderação, nas palavras que nunca se chegam a dizer, nas conversas perdidas à beira do rio, no olhar que fica no ar, no tempo que é preciso dar para que cresça, amadureça e deixe de meter medo. É preciso dar tempo ao amor, um tempo sem tempo, sem datas nem prazos, sem exigências nem queixas, porque o amor leva o tempo que for preciso."

(Margarida Rebelo Pinto)

Ajeihad

sábado, 24 de julho de 2010

Pódio


Finalmente descobres um tempo desprovido de sentimento.
Hoje vi-o e conquistei o lugar do pódio mais abaixo.
Virei-me para onde mora a oração,
e rezei-te uma pequena humilhação.
Como nunca mais irei fazer...
Tempos e tempos que procurei na minha caixa de mensagens
"O que é o amor?"
"O que é o teu amor?"...
Fascinava tudo o que somente eu conseguia  ver através deste saudoso sentimento,
Que agora tem sabor acre....
Não vejo para além de dor!
É a minha razão quem dita,
Somente hoje!
Porque me julgaste com palavras duras de dor!
Finalmente vi...
O que é o amor...
O teu amor!
Dor...
As minhas lágrimas,
O meu pesar ao mais insignificante átomo!
Não consigo crer no óbvio.
A realidade é demasiada!
Só queria que estivesses a meu lado...
Ouvisses...
Compreendesses o que é o meu ser...
Uma última chance...
Um último ardor!
Diz o meu nome uma última vez!
Uma última conquista do que não conquistamos!
Está bem meu amor...
Não posso dormir mais nessa cama que fiz...
Foi desfeita...
Não é o que eu preciso...
Tu vais-te!
E eu continuo a cair!
Diz o meu nome mais uma vez!
Estou a cair!
Mas vou esquecer-te meu amor...
Não guardaste o primeiro lugar no pódio...
Aquele que sempre desejei ter,
Que lutei com tanto fulgor!

Recordo-te, mas não te confio meu amor!

"Aprende que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido: simplesmente o mundo não irá parar para que tu o possas concertar.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Portanto, planta, tu mesmo, o teu jardim e decora a tua alma - ao invés de esperar eternamente alguém que lhe traga flores.
E aprende que, realmente, tudo podes suportar ; que realmente és forte e podes ir mais longe - mesmo após teres pensado não ser capaz. E que realmente a vida tem o seu valor, e, tu, o teu próprio e inquestionável valor perante ela."
(William Shakespeare)


Ajeihad

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O poeta

O poeta diz que

"A ausência de cores é completa em todos os instantes de separação..."

Não poderia estar mais de acordo...

Ajeihad

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Janela


Assisto ao cair da noite pela janela
O céu escurece, mas ainda vejo as nuvens em tons de cor de rosa...
Existe cor no céu sombrio...
Os sons abafados lá fora,
O vento que assobia baixinho e me faz fechar os olhos,
mais uma vez...
A janela ao meu lado esquerdo.
Por agora é ela que me ampara
O lado que dói...
O lado que pesa...
O meu lado esquerdo...
Ainda bem que tenho um lado direito.
Aquele que protege...
Aquele que ajuda a tolerar...
Talvez a dita força interior venha do lado direito!
Quem sabe?
Eu não sei, mas vou crer no meu lado direito...

Recordo o teu toque...

Ajeihad

É vento e chuva

Pensamentos soltos.
Presos à tua memória, com sabor amargo...
O vento faz fechar os olhos... Quando fechas, esses pensamentos fluem,
caem no teu rosto da minha memória... Como gotas de chuva...
Gotas de chuva a cair num mar brandido...
Parecem tentar furar e entrar à força numa rocha consistente.
Pensamentos soltos, são ventos furiosos.
Fechas os olhos e alimentas a intensidade da sensação,
Manténs vivas as gotas de chuva no mar revolto,
e deixas que elas caiam, ao sabor amargo de uma recordação.
A chuva cai agora sobre ti, desenhando as linhas do teu rosto,
dos teus lábios, do teu corpo...
Num prazer sôfrego elas caem, uma a uma, como se fosse a primeira vez.
Cada gota num encontro memorial,
Ao teu encontro!
O vento fecha os olhos,
esgota a tempestade da saudade e tu olhas...
Olhas para trás e vês a dança daquele mar que ainda
se agita por ti.
Num mar tempestuoso...

Ajeihad

Aconteceu

Estranhamente aconteceu...
Não sei o que pensar
O que passou e já não retorna?
Porque partiste?
Estranhamente aconteceu...
O teu coração selvagem não bateu mais por mim...
Sentado no teu leito
Olhas à tua volta
Sentes que é que isto que queres
A tua mente numa calmaria,
A minha numa revolta!
Foges e não páras
Passas e não me vês!
Os teus olhos fixam o limite do horizonte
Porque não me amas?
Porque te vais?
Voo um espaço vazio
Que não é teu
Piso pedras que tu não pisas
Nada é meu...
Tenho o que precisas!
Quebra o silêncio prometido
Neste momento de derrota
Quebra a irrealidade
O silêncio é a ruína!
O coração que é teu
O teu que nunca bateu por mim...
Estranhamente aconteceu... 

Ajeihad

terça-feira, 20 de julho de 2010

A Viagem...

Foi uma viagem de um só sentido... De ida e sem possibilidade de retorno. 
Ela circulava numa estrada imensa que não parecia ter fim, mas chegou ao seu destino...
Era um dia quente de Verão e o sol brilhava com intensidade, assim como a sua expectativa. Mas em vão...
Veio o Inverno... O frio da estação cobriu-a em toda a sua plenitude e aí o verde das árvores, que orlavam as bermas daquela estrada interminável, já não era verde... O azul do céu deu lugar ao breu e as nuvens vestiram-se de um tom cinza carregado... O canto dos pequenos pássaros deixaram de se ouvir e o canto interminável daquela cotovia teimava em não desistir...  A esfera vestiu-se de luto e ela vestiu-se com ela.
Era uma estação que ela não suportava... Um inicio solitário...

Ajeihad

Ouvi dizer...

"Ouvi dizer que o nosso amor acabou.
Pois eu não tive a noção do seu fim!
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim:
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi!
E eu fiquei com tanto para dar!
E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva!
E pudesse eu pagar de outra forma!

Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã,
E eu tinha tantos planos pra depois!
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós;
Sem tirar das palavras seu cruel sentido!
Sobre a razão estar cega:
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu;
Como eu não fui;
Um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!
Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!"

(Ornatos Violeta)

Ajeihad

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Redondo...

Amargura...
Frustração...
Negação...

Os despojos do mundo incrustados numa só alma. Num só espírito que ontem via o que julgava a certeza de uma eternidade.

Hoje vive essa ferida só dela, aberta ao desacato da perdição. A condenação eterna ri-se e ela esconde-lhe a cara para não mostrar o mar que a percorre. Não tardasse a noite a chegar, o seu único aconchego, a sua criança, a sua única amiga, ela viveria a sua dor longe do olhar amargurado da vida... À luz, que a queima, é só uma mera alma perdida no meio de milhares de outras que a faz banhar nesse mar salgado sempre que se pergunta...

"O que correu mal?
Porque te foste?
Onde estás?
Porque não voltas?
Porque não me amaste como antes?"

Ela só queria ser amada como sempre. Ela não sabe! Ela não compreende! Ela não pediu a ferida nem a negação! Ela questiona-se mais uma vez todas aquelas perguntas já construídas quase em redondilha, numa sequência já interiorizada...

"O que correu mal?
Porque te foste?
Onde estás?
Porque não voltas?
Porque não me amaste como antes?"

Em desacato com o mundo, ela grita mas não a ouves! As almas já não se tocam? Como se ela está ligada a ti como uma raiz se incrusta na terra? Fechaste a porta e deixaste-a do lado de fora... Sozinha... No meio de tantas outras almas que procuram as suas respostas à luz da noite incerta... Ela é  só uma criança que ainda vê o mundo com olhos de inocência bela. Como a noite que a acolhe agora... 

Ela não entende e ela pergunta-se porque só queria ser amada.

Confunde-se então com a escuridão sua amiga. Ela é um buraco negro, em toda a sua existência, em que o tempo parou sem qualquer piedade... 
Viveu! É uma criança abandonada que já não vive! O negro sugou toda aquela vida que a vestia e então ela banha-se no seu escuro mar tentando encontrar-te...

Ela só queria ser amada por ti.

Ajeihad