terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um conto desengonçado

Ele olhou para trás uma última vez. Com seu olhar doce, terno e inseguro, mas assertivo, voltou-se para o lado do horizonte onde nasce o sol. Ele queria-o avistar, queria-o só para si. Um novo dia, um novo amanhecer, um tão desejado recomeçar. 
Tinha afirmado para ele mesmo que não caminharia mais naquela direcção, de encontro àquelas memórias e sentimentos engolidos pelo tempo que já fora. Mas indubitavelmente somos humanos e, de vez incerta, o coração toma as rédeas à razão.

Há momentos de fragilidade, e Sebastião deixara-se levar pela incerteza do lance temporal que momentaneamente separou da sua objectividade, da sua segurança, da sua certeza. Apesar de tudo tinha mágoas incrustadas na sua alma, emaranhadas em teias de incompreensão e orgulho ferido que só o recordar lhe acertava como setas pontiagudas. Existia uma batalha campal no seu interior, ferindo-o moralmente as hastes de madeira, armadas de um ferro e atiradas por meio de um arco. 

Para ele, aquela mulher, pendia-lhe na memória com um sabor ora doce, ora amargo. Ela teria sido a luz dos seus olhos durante o período certo, aquele em que não precisou de se contemplar interiormente. Acomodara-se àquela companhia meiga e amorosa, nunca conseguindo ser o melhor para ela. No fundo ele sabia, faltava admiti-lo em surdina a si mesmo, mas era maior do que ele, maior que a sua compreensão e empenho. Não estava preparado. No seu interior a chama tinha desvanecido com o tempo. Agora tudo fazia sentido.

Embebido no seu pensar, no seu mundo, ele continua a seu trilhar. O coração, perdido e enclausurado, como um pendente de um relógio, não percebe a profundidade do buraco que causou naquela vida, naquela pessoa que lutou com todas as forças para que ele a amasse até que elas se esgotaram.
Ele olhou para trás mais uma vez, com a certeza que esse olhar seria o último de uma vida...

Nesse despertar ela sonhou com trovões e tempestades de areia, remoinhos de vento e ondas gigantes que assolavam a sua ilha... Gemia, tremia, tentava correr e fugir. Chorava, desesperava, mas no meio do desastroso cenário um foco de luz surge do céu revolto... Aquece-a e ela sente-se mais leve...
"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus."
( Eugénio de Andrade)

Ajeihad

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Não



Sento-me mais uma vez. O dia parece ter parado no tempo e as horas não avançam. Perdi a conta às vezes que parei para o fazer. O corpo dói, a alma leve como uma pena, encontra-se mais vazia que há 3 dias atrás. Daqui a pouco larga-se da minha matéria e pede divórcio por não a manter viva e resplandecente como antes. Não a censuro, até eu estou cansada e esgotada de mim.
Nos intervalos em que descanso (pois o corpo não aguenta) as lágrimas não tardam em sair... Olho em redor e vejo o alvoroço traçado neste espaço. Existem andaimes repletos de caixotes, uns vazios, outros não. São às dezenas, ou talvez centenas. Isto é enorme visto do canto onde me encontro. Estou sentada no sopé de um desses andaimes. Z1-C18-L2-1 são as minhas coordenadas. Será que alguém me vem buscar? Tivesse eu pernas e não fosse este cubo sem recheio! Sinto-me uma mercadoria esquecida pelo tempo, usada e abusada, velha e sem proveito, repleta de pequenas partículas sólidas e ácaros que depois de levitarem pelo ar caem e se depositam em mim sem sequer questionarem se podem, se sou ou não alérgica às suas presenças. Tudo bem, eu deixo. Sempre deixei pousar no meu invólucro tudo o que me magoa. O importante é que o próximo fique bem, eu aguento-me. Não posso continuar a esquecer-me desta maneira...
A certeza irremediável é que nesta desarrumação sinto-me o caixote vazio deixado a um canto esquecido pelos homens da transportadora.
Na parte frontal, ao alcance dos olhos, tenho escrito : "Keep dry & handle with care", mas todos tratam com descuido...
Importante questionar: Afinal o que são estes homem da transportadora? Eles, tal como eu, em muitas ocasiões são caixas vazias. Eu já presenciei. Passageiros de uma vida insípida! Talvez necessitem de uma mão. Talvez precisem ser transportados...

Subitamente ganho uma força incontrolável e com ela as pernas que me faltavam!
Não aguento mais este local, portanto, pego nas minhas tralhas e zarpo em direcção ao mar. Ele chama-me...

24h depois...

Ontem fugi da desarrumação e fui até à costa, absorver as energias positivas que o mar tão bem nos sabe transmitir.
Era final de tarde, o sol punha-se no horizonte, bem atrás das minhas costas. Acabou por ter a sua ironia... Sentei-me no areal, observei as gaivotas intrigadas com aquela cara pensativa. Elas iam desfilando a sua elegância à minha frente, examinando-me cuidadosamente, tentando perceber se concebia algum tipo de ameaça. Era como se fossem nobres cavaleiros a proteger o seu tão vasto território. Sorri... Sorri pois aqueles olhos miúdos e curiosos notaram a minha presença escangalhada e, sem saberem, encheram-me de coragem. Despi-me de preconceitos: tirei as sapatilhas, as calças e por fim o casaco e t-shirt, ficando somente de roupa interior. Mais atrás um casal de namorados observavam incrédulos a minha atitude e riam com gargalhadas sonoras. Não me importei e sorri novamente. O mar chamava-me e eu fui ao seu encontro. Corri, senti a sua água salgada a gelar-me os pés, as pernas e sem medo mergulhei! Antes de entrar em choque térmico dei algumas braçadas, mergulhei várias  e voltei para a areia dourada que o vento teimava em levantar. Estava frio e eu estava viva momentaneamente. Voltei a vestir-me, fui jantar, voltei ao aconchego do meu lar onde tomei um banho quente. Descobri mais uma vez os amigos e familiares fantásticos que tenho e nunca me deixam só e agradeci ao meu anjo, à minha fantástica vida, à natureza, às energias positivas, à simplicidade, à honestidade dos sentimentos. Concluí que sou feliz, que as amarguras do passado tornaram-se numa preciosa lição (as quais levarei sempre comigo) e que um dia esta tristeza vai-se dissipar em algo bom e positivo... Só preciso de completar mais um ciclo...
Espero ansiosamente não ser mais uma fase porque hoje acordei novamente em pranto, desejando que estivesses a meu lado com um sim rasgado nos teus lábios e no teu corpo como na recente noite que nos uniu... Felicidade momentânea arrasada pelo "não " do dia que se seguiu...

Podemos de tal modo dissociar a razão do coração e transformar-nos em máquinas ?



Ajeihad

quarta-feira, 20 de julho de 2011

M & S

Olha para trás uma, duas, três... As vezes necessárias para o teu tão aguardado cansaço.
Esgota o mar bravio que roça o teu olhar e te irrita a pele todas as manhãs e noites. 
Olha para trás e tenta abraçar, sem nunca mais largar, essa leveza que te embala depois da tempestade. Essa agitação violenta do ar acompanhada por chuva e trovões que te assolam e depois refrescam e confortam, sem nunca saberes muito bem porquê. Tenta uma, duas, três... As vezes possíveis, e minutos antes de fechares os olhos ardentes, acredita, não é fogo, é sal...  A pureza do mar que sempre levou a bom porto almas perdidas e desgastadas pelo tempo... O mar e o seu puro sal. 
Agora deita a cabeça nessa almofada e deixa-te levar no ondular das águas desconhecidas e sente, sente a água a acariciar-te, a corrente a tomar conta do teu rumo... Sem pressa, abre os olhos, alcança o que está acima de ti, respira o azul céu e emaranha-te no silêncio tranquilizador ... No deambular aleatório vais perceber que é isso, é esse estado que tanto anseias.
Sem pressa solta o que a tua razão inconsciente tanto batalha sozinha e segue-a...

Ajeihad

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Principezinho



"- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas calam-se. Tu, porém, terás estrelas como ninguém...
- Que queres dizer?
- Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei a rir, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem rir! E quando te tiveres consolado (a gente consola-se sempre), tu sentir-te-às contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto... E os teus amigos ficarão espantados por te ouvir rir olhando para o céu. Tu explicarás então: "Sim, as estrelas, elas  fazem-me sempre rir!" E eles julgar-te-ão maluco....
E riu de novo.
- Será como se eu te tivesse dado, em vez de estrelas, montões de guizos que riem..."
( Antoine De Saint-Exupéry )

A vós, meus amigos, que são as minhas estrelas! Por vezes a minha vista não vos alcança, mas sei que estão sempre lá!

Ajeihad

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O coração escolhe



Finalmente, palavras soltas de significado para expressar o que tanto a alma anseia libertar... Depois de crescimento e amadurecimento amargo, o coração coage com o meramente racional. Perdeu forças que o ligavam à vida, à paixão, à entrega... Ele não sente... Hoje é um músculo emotivo meramente racional. Olha num sentido em clockwise apontado pelos ponteiros do relógio do dia a dia e com eles conta as horas, os minutos e os segundos cheios de um vazio arrogante e esgotante que o faz bater em assincronismo.
Será que me farei entender? Ele quer sair dessa roda mecânica e tão pouco viva... Ele tem uma escolha, mas não escolhe, deixa-se levar no emaranhado das teias da vida. Sobrevive, fraco de lutar, sobrevive e não consegue voltar. Ele tenta, com todas as suas fibras musculares cardíacas, mas está para além delas, para além da sua vontade, para além dele...
No fundo percebe que é chegada a hora... Que tem uma escolha. O ponteiro maior indicou-lhe uma brecha naquele vidro duro, claustrofóbico e em surdina vai-lhe comunicando coisas que só ele sabe...
O coração, tal e qual como eu, temos uma opção, apenas uma... Uma última, antes das aurículas cerrarem de vez e as veias ficarem completamente desertas...

Sabes qual a tua? A minha eu sei, conheço-a mesmo antes de tentar pôr em letras que compõem um todo. Sinto-a, por isso a sigo... Está escrita no meu ADN, no meu jeito de andar, em tudo aquilo que tento e ouso ser. Já me esqueci por demasiado. Do meu lado, ela está tomada e com toda a noção clara de consequências e futuros juízos.
Tens uma escolha. Eu escolho-te a ti (ou o que resta)... A lição, a moral, ou deverei dizer antes: a "desmoral"?
Fizemos tudo do avesso, sempre de costas voltadas um para o outro. Quisemo-nos como dois amantes sedentos de paixão, amor, loucura, mas o teu mundo era tão e tão (só) teu que lá algures pelo ano 2000 e troca o passo deixaste-me sem telha, sem telhado, sem o conforto da tua moradia. Fui uma sem abrigo na tua vida (na minha, e nossa)...
Fizemos tudo do avesso, sempre um contra o outro!
Bati à tua porta uma, duas, três, quatro (inúmeras) vezes e fiquei praticamente sempre fora de ti. Não me deixaste entrar, o teu inconsciente não o permitiu... Como me disseste um dia "Eu sou o resultado de um investimento daquilo que lutei ser e não vou mudar..." - ou algo semelhante ...  O recordar é tão pesado que já não me sei estender mais por aqui.
O que sei, hoje e somente hoje, é que houve um tempo que investiste. Mas eu estava perdida algures por ruas e calçadas rotas e sujas pelo tempo impróprio (para amar) que se tinha proliferado até então.
Perdida, cega, magoada não vi (ou não quis) e protegi-me. Como uma menina de 5 anos assustada com a tempestade e todos os raios luminosos e ruidosos protegi-me contra ti, contra o tempo que ousava tornar a raiar... Um novo dia? Era como se tivesse rodeada por um invólucro que não deixava apreciar o novo dia, o sol, as nuvens brancas, o céu azul...
Sei também que a tua percepção não é assim. Talvez tenhas sido mais terra a terra e no fundo o que vale são os factos e o ocultar de registos (que preferi abafar, tentando-te proteger)... Nunca somos suficientemente inteligentes quando estamos numa situação que não sabemos resolver! Com isso perdeu-se o fio de sol que me acariciava. Como ele me faz falta...
Não condeno, não faço juízos. Simplesmente aceito e percebo.
A minha realidade / verdade é esta. Antes de mais tive medo e por isso me questiono:
Porque me deixaste à chuva durante tanto tempo?  
Padeci com resignação e paciência (não quero sequer recordar), e por isso perdi-me... Inevitavelmente ainda me assombra, agora mesmo, neste exacto momento. Nunca compreendi, nunca soube porque é que alguém que, nos toca assim tão repentinamente e nos agarra, é capaz de nos fazer sentir tão miseráveis, tão frágeis, tão... sós...?! No fundo, faltou comunicar-te, assim, desta maneira e única que sei. Independentemente de quereres ou não saber, de quereres ou não ler, de quereres ou não...
Afastei-me e foi aí, apenas aí que me tentaste alcançar. Eu já não sabia se podia confiar, se podia acreditar... Porque não me deste essa mão antes? Afastei-me e viraste costas... Recordo uma mensagem escrita, enviada por telemóvel (facilidades deste século que acaba por nos separar ainda mais) em que dizias "Pensa nisso...". Nunca compreendeste, naquela altura era a tua vez de tentar abrir a porta... Em vez disso tornamo-nos completamente desconhecidos ao ponto de passares e eu ser uma estranha... O meu mundo desabou e aí sim virei-me contra ti, apesar de viveres acorrentado (em mim)... E continuas aqui, bem junto daquele que tu e eu conhecemos... Não sou isso o que pensas hoje... Continuo a ser quem tu tão bem conheces, mas não vês... Cegaste no teu orgulho...
Vieram tempos difíceis, decisões incrivelmente mudas e de completo contra-senso. Foste tu, sempre tu e mais ninguém que esteve comigo... Independentemente de tudo o que foi feito (ou desfeito)... Tu e tu, somente tu...
"O pior cego é aquele que não quer ver", e eu não vi...
Como te queria...
Volto a recordar o teu toque, o teu olhar, o teu sorriso, o teu abraço, o teu beijo, sabendo que não passa apenas disso: mais uma vez, o meu querer. Um devaneio!
Sonho, tendo uma esperança não alimentada (de fonte desconhecida) que amanhã (um dia) me voltarás a olhar nos olhos...
"Porquê?"...

Foi preciso tempo para amadurecer e crescer...

Ajeihad

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Madalena XXI


Histórias e lendas que vão ficando na memória do Homem e eis uma vem em meu encontro.
Maria Madalena e os (não) pecadores.
Com toda a analogia possível e impossível a semelhança está na ironia do tempo, dos pedaços de vivência. Leva-me a crer que tudo é um ciclo renovado de novos corpos em velhos ensinamentos! Chega a ser corriqueiro, mas repleto de razão, e, certamente, tendemos a desvalorizar. Somos ignorantes então.
Quantas vezes não ouvimos os nossos avós ou pais a dizer:
"Eu não te avisei?"
"Eu não te disse?".
Interessante é tentar (ganhar) tempo e pensar na preciosidade destes mandamentos terrenos que passam de geração em geração.
Mas o que me traz são outras procuras e, antes de mais, tenho de acrescentar um pequeno detalhe: não que seja católica ou siga outra escola religiosa (tenho de admitir), mas não deixo de considerar interessante este pormenor da vossa bíblia...

"Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra"

E aqui duas histórias encontram-se, tal como muitas outras, é certo, mas esta é minha, e Madalena bíblica toma corpo e forma de uma pessoa normal (não mencionada nem conhecida), eu. Maria Madalena é apedrejada no meio de uma praça aberta como se de um troféu tratasse e, antes de tudo, as minhas pedras são uma metáfora para actos descabidos de moral.

Atiraste a primeira, a segunda e esperaste... Não ouviste o "chamamento" do teu Deus, de tal forma que esperaste para me acertar com a terceira e a quarta até ficares totalmente saciado/a. Coloca-te em frente a um espelho e indubitavelmente olha, repara e tenta (se conseguires) ver que no fundo és igual ou pior que esse alguém que acertaste sem nunca te questionares...
Contudo, há uma pequena subtileza, entre os nossos seres, e reside no:
- não te condenar, 
- não te julgar, 
- não te identificar com esse rótulo estereotipado que fizeste questão de marcar entre os meus olhos.
Eu foco-me no que está ali, bem à frente (mesmo com esse papel estampado na minha testa... irrita-me, faz-me impressão, mas vivo com isso...). Eu rio com ele, eu vivo com ele.
És menos do que suponhas ser, disso não restam quaisquer dúvidas... E eu, eu não te rotulo nem te apedrejo (alma perdida)...
Tenho em mim um campo visual de 360º que me faz ver e aceitar o que tu não queres sequer perceber.
És carne despojada neste mundo inerte que não precisa de ti...
Mera sombra, quem te encantou esses sonhos? Quem te colocou uma nuvem debaixo desses pés em detrimento da terra batida?
Esses caminhos que calças, já há muito foram trilhados... Deram asas a muitos filósofos e pensadores. No fim prevalece "O que distingue o certo do errado?", "Quem és tu?".
Lidas de forma revolta porque és menos do que julgas ser, e lá no fundo, o teu (in)consciente acerta-te incessantemente com a besta, setas que te rasgam a razão!
Preocupo-me, por isso experimenta reduzir-te ao mínimo (de que tentas fugir), deixa-te aí ficar e por momentos vais precisar de quem já lá esteve e hoje compreende...
Conseguirás levantar-te?

Ajeihad

terça-feira, 26 de abril de 2011

After a while



After a while you learn the difference, the subtle difference between giving a hand and fettering a soul;
And you learn that to love doesn't mean to support yourself, and that company doesn't always mean security.
And you learn that kisses are not contracts and that gifts are not promises.
And you start to accept your loss with your head up and eyes straight ahead, with the grace of a grown-up, not the sadness of a child.
You learn to build the roads of today, because tomorrow's land is too unknown to make plans and the future usually falls from nowhere.
After a while you learn that the sun burns if you expose yourself to it for very long.
And you learn that it doesn’t matter how much you care, some people just don’t.
And you accept that it doesn’t matter how good someone can be, they will hurt you once in a while and you have to forgive them for that.
And you learn that talking can be a relief to emotional pain.
You learn that it takes years to build trust and just seconds to destroy it, and you can do things in a second that you will regret for the rest of your life…
You learn that friendship continuous to grow even with the distance and that what matters is not what you have in life, but who you are in life.
And you learn that you don’t have to change friends if you understand that friends change, and you realize that you and your friend can do nothing or everything and still have good times together.
And you learn that the people you care the most are taken away from you too fast, that is why we should always say caring things to those we love, because it might be the last time we see them…
And you learn that you shouldn’t compare yourself to others, but to the best you can become.
You learn that it takes a long time for you to become the person you want to be, and that life is too short.
And you learn that it doesn't matter where you've already gotten to, but where you are going, and if you don't know where you're going, anywhere will do.
You learn that either you control your acts or they will control you, and that being flexible doesn't mean you are being weak, or that you don't have a personality, for no matter how delicate and fragile a situation is, there are always two sides of it.
And you learn that heroes are those that did only what was necessary...
You learn that patience requires a lot of practice.
You find out that sometimes the person that you expect to kick you when you fall, is one of the few that will help you up.
You learn that maturity is about what kind of experiences you’ve had and what you’ve learned from them, not how many birthdays you have already celebrated.
You learn that there's more of your parents in you than you suppose.
You learn that you should never tell a child that dreams are foolishness, few things are so humiliating that it would be a tragedy if he believed that.
You learn that when you are angry you have the right to be angry, but that does not give you the right to be cruel.
You learn that just because someone doesn't love you the way you want to be loved, it doesn't mean that the person doesn't know how to love, and s/he loves you as much as s/he can, because there are people who love you, but simply don't know how to show it.
You learn that being forgiven is never enough, sometimes you have to learn to forgive yourself.
You learn that with the same harshness that you judge, you someday, will be condemned.
You learn that no matter how many pieces your heart was broken into, the world doesn't stop so you can fix it.
You learn that you cannot go back in time, so you have to take care of your garden and not wait for someone to bring you flowers.
And you learn you can really bear it, that you're really strong and that you can go farther than you think, and that life has a value and you have a value before life!
And you learn that our doubts are disloyal and that makes us lose what we could achieve, if it weren’t for the fear of trying
.


(Veronica A. Shoffstall)

Ajeihad

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Voei



Não posso deixar que venhas e encostes a tua cabeça no meu ombro. Não te quero agora, não te quero amanhã, simplesmente não te quero. Nem me olhes, porque hoje não te tolero sequer. 
Não tentes gerar comentários com a tua soberania, mania de grandeza ... Eu simplesmente não vou nem ouvir. Estou fora. Fui de férias. Apanhei o primeiro avião para a Amazónia e vou viver como os seus nativos.  Eles saberão o porquê... 
Sem preocupações, sem pressas, voei e deixei-me levar exclusivamente pelos sentidos e  pelo que me rodeia. Eu sou assim. Será que aceitas? Não te aproximes... Deixa-me estar...
Voei e agora estou aqui, nesta imensidão do sentir... Algo mudou. Reconheces-me? Eu não sei quem tu és, por isso fica aí. Tenho a consciência de que algo se passa no interior de mim mesma. E tu? Olhas para ti e vês-te? É simples, fica contigo.
Voei e não posso deixar que pises o mesmo chão. Por agora não. Estou a olhar com a cara voltada para cima e daqui consigo perceber os troncos altivos, que se estendem até aos céus, o verde das folhas,  que delimitam as copas das árvores, os raios de sol, que tentam alcançar o solo da floresta húmida. A sintonia da perfeição... Fecho os olhos e deixo que os sons tomem conta de mim. Formam uma miscelânea aprazível, mas impossível de decifrar. Sinto-me bem, e concluo que é disto que a vida é feita. Algo de bom, se a ouvirmos bem, mas que não nos permite certezas. Só temos de seguir e deixar-nos levar pelo que encontramos...
Não voaste comigo, tudo bem. Agora vejo-te daqui. E mesmo distante compreendo que não ouves os mesmos sons, nem olhas o que rodeia da mesma maneira que eu... 
Olha e, indubitavelmente, vê... Experimenta uma única vez uma razão que não é tua. Não venhas, simplesmente não venhas, mas volta quando assim compreenderes que é hora.

Ajeihad

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

E se eu não te amar mais

 Se eu não te amar mais me
 Caia o mar nos ombros
 Me caia
 Este silêncio pelos ossos dentro
 Me cegue os olhos esta sombra
 Me cerre
 Esta noite num escuro mais profundo
 Do que a chuva de ti de mãos tão leves
 A figueira do meu sangue se emudeça
 De pássaros à espera dos teus passos
 De outra voz por sobre a minha
 Morta
 E as ruas do teu corpo eu desaprenda
 Como desaprendi os dedos que em tocam
 E se eu não te amar mais me caia a casa
 De costa no teu peito como o vento

(António Lobo Antunes)

Où est la lumière de tes yeux? Solitude... 

Ajeihad

domingo, 9 de janeiro de 2011

Vigílias

Quando aqui não estás
o que nos rodeou põe-se a morrer
a janela que abre para o mar
continua fechada só nos sonhos
me ergo
abro-a
deixo a frescura e a força da manhã
escorrem pelos dedos prisioneiros
da tristeza
acordo
para a cegante claridade das ondas
um rosto desenvolve-se nítido
além
rasando o sal da imensa ausência
uma voz
quero morrer
com uma overdose de beleza
e num sussurro o corpo apaziguado
perscruta esse coração
esse
solitário caçador


(Al Berto)

Ajeihad