quarta-feira, 22 de junho de 2011

O coração escolhe



Finalmente, palavras soltas de significado para expressar o que tanto a alma anseia libertar... Depois de crescimento e amadurecimento amargo, o coração coage com o meramente racional. Perdeu forças que o ligavam à vida, à paixão, à entrega... Ele não sente... Hoje é um músculo emotivo meramente racional. Olha num sentido em clockwise apontado pelos ponteiros do relógio do dia a dia e com eles conta as horas, os minutos e os segundos cheios de um vazio arrogante e esgotante que o faz bater em assincronismo.
Será que me farei entender? Ele quer sair dessa roda mecânica e tão pouco viva... Ele tem uma escolha, mas não escolhe, deixa-se levar no emaranhado das teias da vida. Sobrevive, fraco de lutar, sobrevive e não consegue voltar. Ele tenta, com todas as suas fibras musculares cardíacas, mas está para além delas, para além da sua vontade, para além dele...
No fundo percebe que é chegada a hora... Que tem uma escolha. O ponteiro maior indicou-lhe uma brecha naquele vidro duro, claustrofóbico e em surdina vai-lhe comunicando coisas que só ele sabe...
O coração, tal e qual como eu, temos uma opção, apenas uma... Uma última, antes das aurículas cerrarem de vez e as veias ficarem completamente desertas...

Sabes qual a tua? A minha eu sei, conheço-a mesmo antes de tentar pôr em letras que compõem um todo. Sinto-a, por isso a sigo... Está escrita no meu ADN, no meu jeito de andar, em tudo aquilo que tento e ouso ser. Já me esqueci por demasiado. Do meu lado, ela está tomada e com toda a noção clara de consequências e futuros juízos.
Tens uma escolha. Eu escolho-te a ti (ou o que resta)... A lição, a moral, ou deverei dizer antes: a "desmoral"?
Fizemos tudo do avesso, sempre de costas voltadas um para o outro. Quisemo-nos como dois amantes sedentos de paixão, amor, loucura, mas o teu mundo era tão e tão (só) teu que lá algures pelo ano 2000 e troca o passo deixaste-me sem telha, sem telhado, sem o conforto da tua moradia. Fui uma sem abrigo na tua vida (na minha, e nossa)...
Fizemos tudo do avesso, sempre um contra o outro!
Bati à tua porta uma, duas, três, quatro (inúmeras) vezes e fiquei praticamente sempre fora de ti. Não me deixaste entrar, o teu inconsciente não o permitiu... Como me disseste um dia "Eu sou o resultado de um investimento daquilo que lutei ser e não vou mudar..." - ou algo semelhante ...  O recordar é tão pesado que já não me sei estender mais por aqui.
O que sei, hoje e somente hoje, é que houve um tempo que investiste. Mas eu estava perdida algures por ruas e calçadas rotas e sujas pelo tempo impróprio (para amar) que se tinha proliferado até então.
Perdida, cega, magoada não vi (ou não quis) e protegi-me. Como uma menina de 5 anos assustada com a tempestade e todos os raios luminosos e ruidosos protegi-me contra ti, contra o tempo que ousava tornar a raiar... Um novo dia? Era como se tivesse rodeada por um invólucro que não deixava apreciar o novo dia, o sol, as nuvens brancas, o céu azul...
Sei também que a tua percepção não é assim. Talvez tenhas sido mais terra a terra e no fundo o que vale são os factos e o ocultar de registos (que preferi abafar, tentando-te proteger)... Nunca somos suficientemente inteligentes quando estamos numa situação que não sabemos resolver! Com isso perdeu-se o fio de sol que me acariciava. Como ele me faz falta...
Não condeno, não faço juízos. Simplesmente aceito e percebo.
A minha realidade / verdade é esta. Antes de mais tive medo e por isso me questiono:
Porque me deixaste à chuva durante tanto tempo?  
Padeci com resignação e paciência (não quero sequer recordar), e por isso perdi-me... Inevitavelmente ainda me assombra, agora mesmo, neste exacto momento. Nunca compreendi, nunca soube porque é que alguém que, nos toca assim tão repentinamente e nos agarra, é capaz de nos fazer sentir tão miseráveis, tão frágeis, tão... sós...?! No fundo, faltou comunicar-te, assim, desta maneira e única que sei. Independentemente de quereres ou não saber, de quereres ou não ler, de quereres ou não...
Afastei-me e foi aí, apenas aí que me tentaste alcançar. Eu já não sabia se podia confiar, se podia acreditar... Porque não me deste essa mão antes? Afastei-me e viraste costas... Recordo uma mensagem escrita, enviada por telemóvel (facilidades deste século que acaba por nos separar ainda mais) em que dizias "Pensa nisso...". Nunca compreendeste, naquela altura era a tua vez de tentar abrir a porta... Em vez disso tornamo-nos completamente desconhecidos ao ponto de passares e eu ser uma estranha... O meu mundo desabou e aí sim virei-me contra ti, apesar de viveres acorrentado (em mim)... E continuas aqui, bem junto daquele que tu e eu conhecemos... Não sou isso o que pensas hoje... Continuo a ser quem tu tão bem conheces, mas não vês... Cegaste no teu orgulho...
Vieram tempos difíceis, decisões incrivelmente mudas e de completo contra-senso. Foste tu, sempre tu e mais ninguém que esteve comigo... Independentemente de tudo o que foi feito (ou desfeito)... Tu e tu, somente tu...
"O pior cego é aquele que não quer ver", e eu não vi...
Como te queria...
Volto a recordar o teu toque, o teu olhar, o teu sorriso, o teu abraço, o teu beijo, sabendo que não passa apenas disso: mais uma vez, o meu querer. Um devaneio!
Sonho, tendo uma esperança não alimentada (de fonte desconhecida) que amanhã (um dia) me voltarás a olhar nos olhos...
"Porquê?"...

Foi preciso tempo para amadurecer e crescer...

Ajeihad

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