quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Há Dias Assim



Conheces aqueles dias de festa em que os bombos troam fortemente e vês aglomerados de pessoas por todo o lado que não deixam respirar do tanto calor que emanam e tu ficas ali sozinho a ver o tempo passar em câmara lenta Os risos estrondosos, os bombos a ressoar, os gigantes cabeçudos a dançar e a esbracejar, de um lado para o outro, com as suas caras impávidas, os amigos que se abraçam a cambalear, os cheiros  nauseantes e tu ali no meio como se estivesses num carrossel parisiense, em que tudo anda em círculos Estás parado e tudo corre à tua volta, estás parado e o mundo não te vê Tu estás mas não estás Tu vês mas não és visto Queres sair dali, olhas à tua volta, e as pessoas estão a rir tão violentamente que te põem os ouvidos em sangue mas sem sangrar, que te fazem vociferar sem seres escutado Estás parado e tudo corre Foges dali furando pelo meio da multidão e aquelas pessoas felizes barricaram o teu caminho e não tens mais para onde ir Só vês gente e gente Eles só riem e riem e fazem-te gritar A tua boca não mexe mas tu gritas, lá no fundo tu gritas E tapas os ouvidos e tentas que os bombos, os risos, as palavras, das gentes que passam, não te firam os tímpanos que sangram sem que haja sangue vermelhão Abres e fechas os olhos e tentas encontrar um ponto de focagem que te dará força para saltar daquele transe, daquela sensação ilusória de movimento do corpo parado ou mesmo do movimento à sua volta provocado pelo ribombar dos bombos e da passagem das criaturas ruidosas, daquela vertigem constante e repugnante Conheces aqueles dias de festa que por alguma razão não têm o tão esperado fim, e tu sentes-te como se fosses mais um na multidão, sem realmente o seres És menos do que essa multidão, és menos do que aquele ser que te enfrenta, és menos que nada... Há dias assim...

Ajeihad

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