Ele olhou para trás uma última vez. Com seu olhar doce, terno e inseguro, mas assertivo, voltou-se para o lado do horizonte onde nasce o sol. Ele queria-o avistar, queria-o só para si. Um novo dia, um novo amanhecer, um tão desejado recomeçar.
Tinha afirmado para ele mesmo que não caminharia mais naquela direcção, de encontro àquelas memórias e sentimentos engolidos pelo tempo que já fora. Mas indubitavelmente somos humanos e, de vez incerta, o coração toma as rédeas à razão.
Há momentos de fragilidade, e Sebastião deixara-se levar pela incerteza do lance temporal que momentaneamente separou da sua objectividade, da sua segurança, da sua certeza. Apesar de tudo tinha mágoas incrustadas na sua alma, emaranhadas em teias de incompreensão e orgulho ferido que só o recordar lhe acertava como setas pontiagudas. Existia uma batalha campal no seu interior, ferindo-o moralmente as hastes de madeira, armadas de um ferro e atiradas por meio de um arco.
Para ele, aquela mulher, pendia-lhe na memória com um sabor ora doce, ora amargo. Ela teria sido a luz dos seus olhos durante o período certo, aquele em que não precisou de se contemplar interiormente. Acomodara-se àquela companhia meiga e amorosa, nunca conseguindo ser o melhor para ela. No fundo ele sabia, faltava admiti-lo em surdina a si mesmo, mas era maior do que ele, maior que a sua compreensão e empenho. Não estava preparado. No seu interior a chama tinha desvanecido com o tempo. Agora tudo fazia sentido.
Embebido no seu pensar, no seu mundo, ele continua a seu trilhar. O coração, perdido e enclausurado, como um pendente de um relógio, não percebe a profundidade do buraco que causou naquela vida, naquela pessoa que lutou com todas as forças para que ele a amasse até que elas se esgotaram.
Ele olhou para trás mais uma vez, com a certeza que esse olhar seria o último de uma vida...
Nesse despertar ela sonhou com trovões e tempestades de areia, remoinhos de vento e ondas gigantes que assolavam a sua ilha... Gemia, tremia, tentava correr e fugir. Chorava, desesperava, mas no meio do desastroso cenário um foco de luz surge do céu revolto... Aquece-a e ela sente-se mais leve...